DESAFIOS E CONTRIBUIÇÕES - DIVERSIDADE DE GÊNERO - IBRATH Instituto Brasileiro de Terapias Holísticas

Desafios contribuições - A psicanálise, desde seu surgimento com Sigmund Freud, sempre teve um impacto significativo na compreensão do comportamento humano e na intervenção em questões de saúde mental.

DESAFIOS E CONTRIBUIÇÕES
DESAFIOS E CONTRIBUIÇÕES

Introdução

A psicanálise, desde seu surgimento com Sigmund Freud, sempre teve um impacto significativo na compreensão do comportamento humano e na intervenção em questões de saúde mental.

Contudo, no contexto atual, marcado por avanços médicos e tecnológicos, além de mudanças sociais significativas, é preciso refletir sobre a relevância da psicanálise e como ela pode contribuir de forma progressiva e atualizada.

Neste artigo, focaremos em como a psicanálise pode endereçar um dos maiores desafios contemporâneos: o acesso a tratamentos de saúde específicos, como terapias hormonais ou cirurgias, especialmente em questões de gênero.

Desafios no Acesso à Saúde 

O acesso à saúde, um direito humano básico, ainda enfrenta inúmeras barreiras em diversos países, incluindo o Brasil. Segundo o Sistema Único de Saúde (SUS), o acesso a tratamentos específicos é muitas vezes dificultado por longas filas, falta de profissionais especializados, e burocracias.

Esse cenário torna-se ainda mais crítico quando se trata de terapias hormonais ou cirurgias relacionadas à identidade de gênero, onde o preconceito social e o despreparo profissional podem criar obstáculos adicionais.

O campo da psicanálise tem evoluído para abordar questões de gênero de uma maneira mais inclusiva e contemporânea.

Anne Fausto-Sterling, em suas pesquisas (Fausto-Sterling, 2000), propõe um modelo mais fluido de biologia do gênero. Ao fazer isso, ela oferece uma estrutura que pode ajudar na reforma de políticas de saúde, possibilitando que as práticas médicas sejam mais inclusivas e menos patologizantes.

O acesso à saúde representa uma das bases fundamentais para o desenvolvimento e bem-estar de uma sociedade, e no entanto, constata-se que ele é permeado por desafios significativos, não só no Brasil, mas em diversos outros países.

Se o Sistema Único de Saúde (SUS) já enfrenta obstáculos como longas filas, falta de profissionais especializados e burocracias diversas para oferecer tratamentos convencionais, essas barreiras se multiplicam quando tratamos de questões mais complexas e sensíveis, como terapias hormonais e cirurgias relacionadas à identidade de gênero.

A problemática se agrava quando consideramos que muitos desses desafios não são apenas institucionais, mas também culturais e sociais.

O preconceito e o despreparo profissional emergem como barreiras adicionais, reforçando a necessidade de uma abordagem mais holística e inclusiva em relação ao tema. O imperativo não é apenas técnico ou burocrático, mas fundamentalmente ético e humano.

Nesse contexto, a contribuição do campo da psicanálise e de pesquisadores como Anne Fausto-Sterling pode oferecer uma luz orientadora.

Fausto-Sterling argumenta por um modelo mais fluido de biologia do gênero, e essa abordagem tem o potencial de reformar as práticas e políticas de saúde de maneira significativa.

Ao incorporar um entendimento mais inclusivo e menos patologizante do gênero, não apenas melhoramos a qualidade do tratamento médico disponível, mas também reduzimos as barreiras sociais e culturais que amplificam as dificuldades de acesso à saúde para comunidades já vulneráveis.

Portanto, enquanto sociedade, temos a responsabilidade de não apenas reconhecer, mas ativamente buscar solucionar os múltiplos desafios que cercam o acesso à saúde.

É fundamental que as políticas públicas, os currículos de formação médica e os protocolos clínicos reflitam um entendimento mais atualizado e humanizado das diversas questões de gênero.

Devemos, então, perpassar os labirintos burocráticos e as limitações profissionais com um olhar crítico e transformador, comprometendo-nos com a inclusão e a justiça social em todos os aspectos da assistência à saúde.

O direito à saúde é inalienável, e garantir o seu acesso universal e equitativo deve ser uma prioridade inegociável.

Políticas de Saúde e Psicanálise 

A inclusão da psicanálise na formulação de políticas de saúde pode ser uma maneira eficaz de abordar as barreiras ao acesso. Ao considerar modelos mais fluidos de gênero e identidade, como os propostos por Anne Fausto-Sterling, as políticas públicas poderiam ser mais inclusivas e eficazes.

Isso inclui a capacitação de profissionais da saúde para que possam fornecer um atendimento mais humano e compreensivo, além de estabelecer diretrizes clínicas que respeitem as complexidades da identidade de gênero.

O papel da psicanálise vai além do tratamento clínico; ela também pode contribuir para a aprendizagem e formação dos profissionais de saúde.

Através de programas de treinamento e educação continuada que incluam princípios psicanalíticos atualizados, os profissionais podem aprender a oferecer um atendimento mais individualizado e empático.

A psicanálise tem o potencial de ressignificar o modo como encaramos desafios e conflitos, tanto individualmente quanto em uma escala comunitária.

Quando aplicada ao contexto da saúde, essa ressignificação pode levar a uma mudança de paradigma, de um sistema frequentemente excludente para um mais inclusivo e humano.

A psicanálise, portanto, não só se mantém relevante, mas também adquire um caráter progressivo e transformador, capaz de agregar valores éticos e sociais à prestação de serviços de saúde.

A integração da psicanálise na concepção e implementação de políticas de saúde pode ser um avanço crucial na busca por sistemas de saúde mais inclusivos e eficazes.

Este campo do saber, que tradicionalmente tem se focado na esfera clínica e individual, carrega consigo o potencial de transmutar o cenário mais amplo da assistência à saúde, beneficiando a sociedade em seu conjunto.

O avanço proposto por pesquisadores como Anne Fausto-Sterling, que advogam por modelos mais fluidos e contemporâneos de gênero e identidade, oferece uma oportunidade para que as políticas públicas abracem uma concepção mais humana e individualizada de cuidado.

A aplicação da psicanálise não deve se restringir apenas ao contexto da terapia individual, mas pode ser instrumental no treinamento e na educação continuada de profissionais da saúde.

O ensino de princípios psicanalíticos atualizados permite que médicos, enfermeiros e outros trabalhadores da saúde se capacitem para oferecer um atendimento mais empático e personalizado.

Em uma era em que a impessoalidade muitas vezes impera no tratamento médico, essa abordagem centrada no indivíduo pode marcar uma diferença substancial na qualidade da assistência prestada.

Este potencial transformador da psicanálise não é meramente teórico.

Ele tem o poder de ressignificar a forma como encaramos desafios e conflitos no âmbito da saúde, promovendo uma mudança de paradigma.

Ao adotar uma perspectiva que respeita as complexidades da identidade de gênero e outras dimensões do ser humano, é possível migrar de um sistema que muitas vezes perpetua exclusões para um que seja efetivamente inclusivo e respeitoso da dignidade humana.

Assim, a psicanálise não apenas mantém sua relevância no discurso contemporâneo, mas emerge como uma força progressiva e transformadora.

Ela se posiciona como um pilar capaz de agregar valores éticos e sociais às políticas e práticas de saúde, elevando o padrão de cuidado e fazendo jus ao direito humano básico de acesso a uma assistência médica de qualidade.

A sua incorporação nas estratégias de saúde pública, portanto, não é apenas desejável, mas imperativa para a construção de sistemas de saúde mais justos, equitativos e humanos.

Conclusão

O acesso à saúde é uma questão multifacetada que envolve desafios logísticos, sociais e políticos.

A psicanálise, em sua forma mais atualizada e inclusiva, pode oferecer ferramentas valiosas para enfrentar esses desafios.

Seja através da reforma de políticas públicas, da formação de profissionais de saúde ou da ressignificação dos desafios enfrentados, a psicanálise tem o potencial de ser um agente de mudança eficaz e compassivo.

João Barros

Floripa, 2023

REFERÊNCIAS BÁSICAS

1- A clínica psicanalítica no Hospital Geral - Durval Marcondes (2003)

Resenha:

Este livro explora a integração da psicanálise no contexto dos hospitais gerais, mostrando como a prática pode contribuir para a qualidade do tratamento em diversas áreas da medicina. Durval Marcondes discute como a psicanálise pode auxiliar na compreensão dos sintomas somáticos e no tratamento de pacientes com doenças crônicas.

Teórico:

Durval Marcondes é um importante psicanalista brasileiro que defende a interdisciplinaridade e integração da psicanálise em ambientes médicos tradicionais.


2- Psicanálise e medicina - Jurandir Freire Costa (2006)

Resenha:

Jurandir Freire Costa explora a relação entre psicanálise e medicina, focalizando em particular os desafios e as oportunidades dessa intersecção. O livro coloca em discussão a importância de uma abordagem psicanalítica no tratamento de questões como identidade de gênero e sexualidade.

Teórico:

Jurandir Freire Costa é um psiquiatra e psicanalista brasileiro conhecido por suas pesquisas em sexualidade e questões de gênero.


3- Identidades de gênero e psicanálise - Maria Rita Kehl (2010)

Resenha:

Maria Rita Kehl examina como a psicanálise pode contribuir para uma compreensão mais profunda das identidades de gênero. Ela argumenta que um diálogo entre a psicanálise e os estudos de gênero pode levar a políticas de saúde mais inclusivas.

Teórico:

Maria Rita Kehl é uma psicanalista e escritora brasileira que traz uma perspectiva feminista para a psicanálise.


4- Psicanálise e saúde pública: interfaces- Niraldo de Oliveira e Sonia Leite

Resenha:

O livro aborda o papel da psicanálise na saúde pública e como ela pode ser aplicada para melhorar o atendimento e o tratamento em diversos contextos, especialmente em populações marginalizadas.

Teórico:

Niraldo de Oliveira e Sonia Leite são teóricos que defendem a aplicação da psicanálise em políticas de saúde pública, especialmente em contextos de vulnerabilidade social.


5- Desafios da psicanálise contemporânea- Sérgio Telle (2018)

Resenha:

Sérgio Telles examina os desafios contemporâneos da psicanálise, incluindo questões éticas, metodológicas e práticas. Ele também explora como a psicanálise pode se adaptar e contribuir para a sociedade em rápida transformação.

Teórico:

Sérgio Telles é um psicanalista brasileiro que examina como a psicanálise deve se adaptar aos desafios contemporâneos, incluindo as questões de acesso à saúde.

Como a psicanálise pode contribuir para o tratamento de questões de identidade de gênero na área da saúde?

A psicanálise pode contribuir para o tratamento de questões de identidade de gênero ao oferecer um espaço seguro para explorar e entender as complexidades do gênero e da sexualidade de um indivíduo. Ao adotar modelos mais fluidos de gênero, como o proposto por Anne Fausto-Sterling, a psicanálise pode colaborar na criação de políticas de saúde mais inclusivas. Essa inclusão permite uma abordagem mais individualizada e humanizada, que pode facilitar o acesso a tratamentos específicos como terapias hormonais e cirurgias relacionadas à identidade de gênero.

De que maneira a psicanálise pode ser integrada em hospitais gerais e outros ambientes de saúde?

A psicanálise pode contribuir para a formulação de políticas públicas ao oferecer uma compreensão mais profunda dos fatores psicológicos e emocionais que afetam o bem-estar humano. Essa compreensão pode ser útil na criação de políticas mais inclusivas e individualizadas. Por exemplo, ao entender as complexidades da identidade de gênero e sexualidade, políticas de saúde podem ser formuladas para serem mais inclusivas, como na criação de diretrizes clínicas para o tratamento hormonal e cirurgias relacionadas ao gênero.

De que forma a psicanálise pode agregar valor ético e social à prestação de serviços de saúde?

A psicanálise, em sua natureza exploratória e compreensiva, pode agregar valor ético e social à prestação de serviços de saúde ao promover o tratamento humanizado. Ela pode facilitar uma abordagem mais empática e individualizada, que leva em consideração a complexidade da experiência humana. Isso não apenas melhora a qualidade do cuidado, mas também tem o potencial de reduzir o estigma e a discriminação em torno de questões de saúde mental e identidade de gênero.

Quais são as principais barreiras para a integração da psicanálise na saúde pública e como podem ser superadas?

As principais barreiras para a integração da psicanálise na saúde pública incluem o estigma em torno da saúde mental, a falta de formação especializada entre os profissionais de saúde e limitações orçamentárias. Essas barreiras podem ser superadas através de campanhas de sensibilização, treinamento de profissionais em princípios psicanalíticos e advocacia para o financiamento adequado de serviços psicanalíticos em ambientes de saúde pública. Também é crucial promover a pesquisa e a evidência científica sobre a eficácia da psicanálise em diferentes configurações de saúde para ganhar suporte institucional e político.
De que maneira a psicanálise pode ser integrada em hospitais gerais e outros ambientes de saúde?
A integração da psicanálise em hospitais gerais pode ser alcançada através da colaboração interdisciplinar entre psicanalistas e outros profissionais de saúde. A psicanálise pode fornecer uma abordagem mais holística para o tratamento de sintomas somáticos e doenças crônicas, explorando os fatores emocionais e psicológicos subjacentes. Além disso, a educação continuada e programas de treinamento podem ser implementados para sensibilizar profissionais da saúde sobre a importância da saúde mental no bem-estar geral do paciente.
Psicanálise

-